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A MIRAGEM

A MIRAGEM                                                                                                                                                    Eu tinha cerca  de 12 anos. Na roça, onde morava, as moças  que eu via eram poucas, e somente quando ia à feira de Capela,  arraial à uma légua de nossa casa.              Eu me enfeitava todo no dia de sábado, dia de feira em Capela do Alto Alegre. Meu chapéu novo de couro, uma casaca e as alpercatas de cromo. Jogava um pouco de cheiro no corpo, roubado da mamãe. Olhos dançando, no caminho. Buscam Mariá, vindo do Tabuleiro. Ou do Bispador. Ouvia a cantiga de roda das noites de lua cheia. A rosa vermelha é meu bem-querer, a rosa vermelha e branca eu hei de amar até morrer. Veria o passo alegre de Quesinha? A Mente voava pr´Aroeira, onde nasci e via Helena caminhando pra escola.             Um sábado, após haver ajudado a descarregar os burros, fui amarrar os animais e pedi a meu pai para dar uma volta. D

O BANCO, O CHÃO, O SONO E O SONHO

Meio-dia. Ôh sole quente. Buracos na estrada.  Enfim, cheguei. Mairi, Monte Alegre da Bahia. Cinquenta léguas de Salvador, por Capim Grosso ou Baixa Grande, por onde foi. Verás, verão. Intranquilo desce, tranquila cidade. Curiosos observam.  Abram as jinelas, belas donzelas, estou chegando. Meia-noite. Gare du Nord. Chegara afinal. Retirar mala, berimbau, pandeiro, violão e bugingangas. Brigitte, seu  papagaio não veio. Complicações na duana. Frio d´outono no seu rosto, folhas sob os pés, caídas.. Noite em Paris, primeira. Saudades. Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá. Achou a casa do tio. A benção, Deus te abençoe, abraços, beijos. Como está comadre? Compadre tá bem? Procurar Costinha, amigo do pai.  Costinha Jururu, (gostava do apelido, ele mesmo se apelicou, preito ao jurubeba, vinho predileto). A carta do pai. Que o apresentasse  à cidade. Orgulho de ter sido o escolhdo.  Estão vendo?  A quem seu pai recomendou?  A Costinha, como Pelé fala na terceira

E TU SILENCIOSA, APENAS RIAS

Porque sou feio tu nem sabes que existo. Porque sou tão pequeno, tu nem me vês, quando te olho. Existo Cristina. Desde o dia em que te vi na capa daquela revista. És alegre, e, no entanto, tens os olhos sensualmente tristes. Segui teus passos apreensivamente e vi-te deitada sobre o feno. Tu não te lembras. Corrias vaporosa, talvez, os lugares chic do mundo, quando te tomei pelo braço e te trouxe a meu quarto. Pus u’a música, deliciosamente sensual, na vitrola, perfumei-me com essência de jasmim e corri para teus braços. Tinhas uma camisola branca com rendinhas amarelas. Olhavas para o teto, pensativa, com a mão direita sob a nuca. Com a esquerda, guarnecias a camisola, talvez por resquícios de pudor. E fiquei minutos em pé a te olhar. Teus cabelos negros. Teus olhos castanhos. Tua boca sempre entreaberta. Eu me lembro. A camisola jazia entre tuas pernas, formando um lindo triângulo. Pairava um cheiro de flores silvestres. Tu não dizias palavra. Parecias estar gostando. P

NOITE EM PARIS

Fazia um friozinho e chuviscava. Ele parara em frente ao Eléphant Blanc . Esperar. Logo estiará. Eram, talvez, duas horas, ou menos. Outras pessoas, também, ali. Esperavam, silenciosas, a chuva passar. Um homem baixo,  careca luzidia,  roupas modestas, parou em sua frente e de costas, coçando seus perigalhos, comentou sobre o tempo. Eterno tema das conversas dos que nada têm a dizer. Tempo, Tempo. Eró, Eró. Tempo, Tempo.  Não me comas, não me devores, meu pai. Eu quero viver. “ Oh quero viver, beber perfumes na flor silvestre que embalsama os ares ”.  Eternidade, te quero.  Mecânico, respondera-lhe.  Convicto, papo assim,  não inicia amizades,  e, só isto  lhe interessava, difícil fazer amigos na França,  mais ainda,  conservá-los. Como ser amigo de um clochard ? De quem não tem  morada, não saber onde procurá-la nos momentos difíceis? Não. Não era um mendicante. Flanava, apenas, flanava. E se fosse, iria precisar de um cloche ? Si . No . Não lhe interessavam poranduba