As pernas dela estavam abertas, estiradas. Seus cabelos espalhados sobre o lençol. As dele dobradas, encolhidas, quase um feto. O que se passara ali? Ninguém saberá. Céus, testemunhas mudas, nada revelam. Passado, presente, futuro, escritos em língua indecifrável. Nus. Não me atrevi a olhar a nudez da morte de jovens inda virgens nos mistérios da vida. Que bela, disse, pudicamente. Flor desfeita, amar amargo. Tanta carne exposta, açougues vazios. As vitrines de Amesterdã estão, hoje, em toda parte, pessoas vendidas sob nossos olhos. Fingimos não ver. Dois corpos quase castos. Ali, na cama fria do hotel. Buscavam o amor. Que luz divina cortou-lhes o sopro? Oh, Céus, implacáveis! Que fim macabro escrevestes nestes livros? Por quê, oh céus, permitis o murchar da flor, sem que venha o fruto? Tu decides, assim? Sem tempo de madurar o fruto? Para que os trouxestes à terra, então. Melhor que os tivessem deixado nos confins do infinito. Não quereis, oh Céus, que uns paguem pelo mal que outros fazem. Que injusto que seria. Isto mesmo, quereis vós? Quão insaciáveis sois, quão sanguinários. Quanto sacrifício exigis de nós. Impondes fé e castigo para quem não crer. Dizei-me, oh Céus, não haverá um entre vós que se rebelará contra esta tirania? Assembleia terrífica, que guardais para os homens? Trabalho e castigo, para ficardes no ócio? Para isto os criastes? Não sois vós, obra de nosso medo?
Terno quadro de natureza morta. Terrível paz, se se pode chamar de paz a morte. Esta intrujã, enganadora.
Manhã nefasta.Teria eu, visto o casal entrar? Quantos por noite? Quantos gemidos? Quantos, ali, traindo alguém? Quantos, vendendo o corpo? Hoje, mulher e homem vendem seus corpos. Acha-se normal. Vai longe o tempo da prostituição sagrada. Sisudos sacerdotes de Ishtar, bem como santificados bispos da igreja, tomam das mulheres solteiras o dinheiro pago pelo ritual. Para crescer os meios são santos. Ritos? Que amor selvagem se pratica, hoje, nos hotéis, os novos santuários do amor?
Terno quadro de natureza morta. Terrível paz, se se pode chamar de paz a morte. Esta intrujã, enganadora.
Manhã nefasta.Teria eu, visto o casal entrar? Quantos por noite? Quantos gemidos? Quantos, ali, traindo alguém? Quantos, vendendo o corpo? Hoje, mulher e homem vendem seus corpos. Acha-se normal. Vai longe o tempo da prostituição sagrada. Sisudos sacerdotes de Ishtar, bem como santificados bispos da igreja, tomam das mulheres solteiras o dinheiro pago pelo ritual. Para crescer os meios são santos. Ritos? Que amor selvagem se pratica, hoje, nos hotéis, os novos santuários do amor?
Comentários
Postar um comentário